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23 . 08 . 2019

Caso Clínico - Alergias

Reporta-se o caso clínico de C.S., uma paciente do sexo feminino com 31 anos de idade. C.S procurou ajuda devido a sintomas alérgicos que afectavam as vias respiratórias, pele e tracto gastrointestinal.

Os sintomas haviam começado há um ano atrás e já tinham motivado 3 idas ao Serviço de Urgência, onde C.S. recebia injecções de corticosteróides, que resultavam numa rápida melhoria clínica. C.S. já tinha consultado um imuno-alergologista e efectuado um teste de despiste de alergéneos, que fora negativo. Contudo, em análises laboratoriais, tinha uma Imunoglobulina E (anticorpo presente na membrana de mastócitos e basófilos, que está elevado em alguns pacientes com doença alérgica) elevada.

Os principais sintomas de C.S. eram os seguintes:

  • episódios esporádicos de dor abdominal forte, muitas vezes seguida de diarreia;
  • sensação de falta de ar e edema das vias aéreas;
  • prurido dermatológico ocasional;
  • várias intolerância alimentares;
  • distensão abdominal e flatulência frequentes;
  • alterações do trânsito intestinal, alternando entre obstipação e diarreia.

Um mês antes da consulta, C.S. havia consultado uma nutricionista que recomendou a evicção de gluten e lácteos, o que resultou em melhoria sintomática parcial.

A sintomatologia de C.S. era sugestiva da “Síndrome de Activação dos Mastócitos”. Esta é uma entidade, recentemente descrita, em que os mastócitos (células do sistema imunitário envolvidas em reacções alérgicas) têm uma maior tendência para ficar activados, libertando os seus grânulos de histamina, que provocam vasodilatação e prurido. Esta libertação de histamina afecta múltiplos órgãos (pele, vias aéreas,  tracto gastrointestinal, etc.), desencadeando sintomas vários. O tratamento convencional para esta síndrome é o uso de anti-histamínicos, que bloqueiam os receptores de histamina, interrompendo, assim, a cascata alérgica.

Contudo, na perspectiva da Medicina Funcional, é importante perceber qual a origem da hipersensitização dos mastócitos. O tracto gastrointestinal é um importante local de apresentação de antigénios exteriores ao sistema imunitário, sendo fundamental a sua análise nestes casos. C.S. tinha queixas gastrointestinais que, até, preenchiam os requisitos para  diagnóstico da “Síndrome do Intestinal Irritável”.

Nesta fase, foi recomendada uma análise funcional do tracto gastrointestinal, incluindo um teste de SIBO (“Small Intestinal Overgrowth” ou “Sobrecrescimento de Bactérias no Intestino Delgado) e um painel de disbiose intestinal, cujos resultados foram os seguintes:

Fig. 1 – Teste de SIBO (ar expirado).

 

Neste teste, a concentração máxima de metano, nos primeiros 90 minutos, atinge as 26 ppm (partes por milhão), o que, segundo as guidelines de 2017 para diagnóstico de SIBO, indica um resultado positivo.

Fig. 2 – Teste de disbiose intestinal (fezes).

 

Por sua vez, a análise da microbiota intestinal, revelou uma boa flora comensal, com níveis adequados de Lactobacillus e Bifidobacterium, mas a presença de muitos fungos no exame microscópico directo. Convém ressalvar a importância do exame directo no diagnóstico de sobrecrescimento fúngico no intestino, visto que estes microorganismos podem perder viabilidade durante o processo de colheita, não sendo depois passíveis de serem cultivados.

Esta avaliação funcional permitiu diagnosticar SIBO (com predomínio de metano) e disbiose com sobrescrescimento de fungos, que poderiam estar a estimular a activação de mastócitos. Procedeu-se ao tratamento destas patologias, com recurso a agentes botânicos com actividade bactericida e fungicida. Após completar o tratamento inicial, foi recomendado um tratamento de manutenção, durante 2 meses, com um probiótico (ertirpe Saccharomyces boulardii) para prevenção de recorrência de disbiose.

C.S. registou uma completa resolução dos sintomas, sendo capaz de tolerar mais alimentos, sem que isso desencadeasse quaisquer sintomas.

Deste caso, pode-se depreender a íntima relação entre o sistema imunitário e a microbiota intestinal. O desequilíbrio da flora intestinal pode resultar em problemas digestivos e potenciar respostas imunogénicas a antigénios da dita flora, bem como a moléculas presentes nos alimentos ingeridos. Através de uma abordagem integrada, é possível ter um impacto positivo no ecossistema intestinal, conduzindo, também, a melhoria de doenças do foro alérgico.

Categorias: Alergias, Casos Clínicos

01 Comment

O nosso corpo é mesmo um mistério tudo é bom saber agradecida

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