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19 . 09 . 2018

Uso de probióticos no tratamento de enxaquecas

As enxaquecas são um tipo de cefaleias que afecta cerca de 15% da população mundial e pode provocar uma diminuição significativa da qualidade de vida. Segundo o entendimento actual, as enxaquecas têm origem num estimulo inflamatório que atinge o feixe trigeminovascular e depois se propaga por outras áreas do cérebro.

Recentemente, emergiu na literatura científica o conceito de um eixo cérebro-intestino (gut-brain axis), que consiste numa comunicação neurohormonal bidireccional entre os dois sistemas. Por um lado, o sistema nervoso central coordena o processo de digestão de alimentos e controla a motilidade intestinal; enquanto o intestino tem efeito directo no cérebro, através da absorção de nutrientes essenciais, modulação da produção de neurotransmissores e libertação de produtos do metabolismo bacteriano.

Fig. 1 – Eixo cérebro-intestino.

 

O epitélio da mucosa intestinal é constituído por uma única camada de células, altamente especializadas na absorção de nutrientes. Contudo, se existir inflamação no lúmen intestinal (decorrente de desequilíbrios da flora intestinal, intolerância alimentares, entre outras causas), podem-se abrir brechas no epitélio, aumentando a permeabilidade intestinal (leaky gut). Consequentemente, partículas de alimentos parcialmente digeridos e endotoxinas bacterianas (lipopolissacáridos) ganham acesso à circulação sanguínea e, não só, activam o sistema imunitário, como podem exercer efeitos nocivos nos variados órgãos, promovendo a inflamação. O aumento da permeabilidade intestinal está, hoje, identificado como sendo um factor importante para o desenvolvimento de doenças auto-imunes e muitas outras patologias.

Fig. 2 – Mecanismo de lesão do epitélio intestinal que leva ao aumento da permeabilidade.

 

No caso específico das enxaquecas, os pacientes afectados tendem a sofrer de distúrbios gastrointestinais, como a síndrome do cólon irritável, com maior frequência que o resto da população. Vários estudos avaliaram o efeito da suplementação com probióticos (combinações de Lactobacillus e Bifidobacterium) na frequência de enxaquecas, com resultados positivos. Num estudo, em particular, 80% dos pacientes (amostra inicial de 40) reportaram alívio quase total de sintomas após 90 dias de suplementação com probióticos e um complexo de vitaminas e minerais.

Terapias dirigidas à promoção da saúde gastrointestinal e restauração da função de barreira da mucosa intestinal, entre as quais o uso de probióticos, podem ser úteis no tratamento de enxaquecas, bem como de outras patologias neurológicas. Estudos como estes reflectem a necessidade de olhar para os vários sistemas de órgãos como um conjunto em permanente comunicação.

Referências:

Dai Y-J, Wang H-Y, Wang X-J, Kaye AD, Sun Y-H. Potential Beneficial Effects of Probiotics on Human Migraine Headache: A Literature Review. Pain Physician. 2017;20(2):E251-E255.

Categorias: Cefaleias, Microbioma

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